
Para você que curte o trabalho desses
músicos mineiros e que tem histórias para contar e compartilhar entre e fique a vontade.
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PEDRO ROSSI

Depois de 20 anos sem tocarem juntos, o cantor Flávio Venturini e o grupo 14 Bis fizeram duas apresentações (Projeto Álbum 14 Bis II) neste final de semana, no SESC Belenzinho em São Paulo. Foi de arrepiar: com uma sintonia perfeita, os instrumentistas presentearam o público com um show virtuoso e cheio de emoção. Parafraseando a jornalista Patrícia Palumbo, "o disco 14 Bis II com suas melodias apuradas, harmonias sofisticadas, vocais em conjunto, um lirismo delicado e raro traz esse tipo de música que é mais leve que o ar. Perfeita pra tocar no radio e encantar multidões. O nome da banda não podia ser mais adequado". Para mim, não somente o disco 14 Bis II, mas toda a trajetória da banda é permeada de leveza e sintonia, fruto da dedicação, amor e simplicidade de cada integrante (adoráveis criaturas).
Em formato livro-CD, a coleção traz o disco, as capas, e as gravações originais, as letras das músicas, ficha técnica completa e fotos cuidadosamente selecionadas de cada trabalho de Bituca, como ele gosta de ser chamado. Os textos esquadriam o processo de criação das músicas, as parcerias e cada momento da trajetória artística de Milton, além de revelarem fatos pouco conhecidos da vida do artista.
José Antônio Rimes tem 47 anos e curiosamente exerce o ofício de recompositor, responsável por encaixotar, organizar e distribuir as mercadorias na seção de congelados de um supermercado da cidade. Apesar de a reportagem ter percorrido quilômetros até chegar a Tonho, como é conhecido, ele trabalha a um quarteirão do hotel onde estávamos hospedados. O encontro com o “menino branquinho do disco”, como ficou conhecido, foi cercado de expectativas. Os colegas do supermercado já sabiam da história e quando o recompositor chegou até se assustou: “Que tanto de gente é essa? Por que está todo mundo parado?”, espantou-se. Quando viu a capa do disco, não titubeou: “Oh, sou eu e o Cacau. Como é que vocês conseguiram isso? Quem tirou essa foto? Eu me lembro desse dia”, revelou.
Cacau e Tonho nasceram na fazenda da família Mendes de Moraes, na zona rural de Nova Friburgo, onde os pais trabalhavam como lavradores. Não desgrudavam um do outro e aprontavam bastante, segundo o relato de parentes e vizinhos que ajudaram a reconhecê-los. Jogavam futebol, bola de gude, pegavam frutas nas vendas da região, nadavam na prainha do Rio Grande e nas cachoeiras. Ficaram muito próximos até os 20 anos, quando as famílias acabaram se mudando para bairros diferentes de Nova Friburgo. Tonho ainda vive na cidade com a mãe, a esposa e as duas filhas, mas Cacau se mudou recentemente para Rio das Ostras, na Região dos Lagos, onde presta serviços como jardineiro e pintor.
Ele teve que enfrentar o Exército e a própria mãe para poder gravar o disco que mudaria os rumos da sua vida. Lô Borges era um adolescente de 19 anos quando foi convidado por Milton Nascimento para assinar junto com ele o LP Clube da Esquina e até hoje não se cansa de agradecer ao amigo e parceiro pelo convite. “Sou eternamente grato a ele. Costumo dizer que, no mínimo, de três em três anos tenho que agradecer ao Milton por tudo que ele fez por mim”, salienta. Sentado na famosa esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis, no Bairro de Santa Tereza, onde deu os primeiros acordes no violão, Lô recorda a experiência mágica da gravação do álbum duplo de 1972 e o que todo aquele processo criativo deixou como legado.
Já saí de Belo Horizonte com o Clube da Esquina bem definido na minha cabeça. Mas disse ao Bituca que só ia ao Rio se pudesse levar um cara que tocava comigo, que tocava Beatles e era da minha banda, The Beavers (Os Castores), porque achava que ele seria muito importante para as minhas músicas. Era o Beto Guedes. Mas nem tudo foram flores para fazer aquele álbum. O Milton travou uma batalha pessoal com a gravadora para poder me colocar no disco, já que eu era praticamente desconhecido. Sou eternamente grato a ele. Costumo dizer que, no mínimo, de três em três anos tenho que agradecer ao Milton por tudo que ele fez por mim. Esse disco mudou a minha vida. Foi muito legal todo o processo. Eu morando com o Bituca, o Beto e o Jacaré, primo do Milton, no Rio de Janeiro. E depois fomos morar numa praia deserta para poder compor. E as coisas iam surgindo. Porque esse disco não teve muito ensaio e nasceram coisas geniais. Vejo como uma verdadeira oficina criativa em todos os aspectos; na música, nas letras. Você pensar que 40 anos depois esse trabalho figura no livro 1.001 álbuns que você deve ouvir antes de morrer é fantástico.
O novo álbum, só com músicas inéditas, tem participações especiais como o grande amigo Milton Nascimento, que inclusive é homenageado na faixa Mantra Bituca e canta ao lado de Lô Borges em Da nossa criação, além de Samuel Rosa e Fernanda Takai. “Eu não a conhecia pessoalmente e foi maravilhoso trabalhar ao lado da Fernanda. Durante o processo de composição do disco, sempre ouvia uma voz feminina. Ela foi a escolhida e se entregou totalmente. Foi bastante generosa, tanto que canta em várias músicas do CD. Ela mesmo disse: eu sou a banda”, comenta o músico de Santa Tereza, que pretende gravar um DVD ao lado dos artistas que fazem parte de Horizonte vertical. 

Beto Guedes acaba de lançar pela Biscoito Fino seu DVD/CD ao vivo intitulado Outros Clássicos. O lançamento é fruto de um show registrado no dia 14 de julho de 2010, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Com arranjos de Wagner Tiso e Cláudio Faria, o espetáculo teve repertório selecionado a partir de votação realizada entre os fãs de Beto Guedes na Internet, que ao longo de dez meses puderam votar nas canções preferidas através do site oficial do compositor.