“O horizonte é o que sou. O vertical, o que faço”, diz o cantor e compositor Lô Borges, comentando o nome de seu mais recente disco, Horizonte vertical, que tem lançamento hoje à noite em show no Grande Teatro do Sesc Palladium. O que está mais evidente no CD é a faceta autoral do músico, um dos fundadores do Clube da Esquina. Todas as 12 faixas são de Lô, sozinho ou com parceiros como Ronaldo Bastos, o irmão Márcio Borges, Samuel Rosa e Nando Reis. “Adoro cantar O trem azul, Para Lennon e Mccartney, mas o papel mais importante que tenho como artista e ser humano é pegar minhas manhãs em casa e transformar meu silêncio em canção. Gosto muito de ser compositor”, enfatiza.
O novo álbum, só com músicas inéditas, tem participações especiais como o grande amigo Milton Nascimento, que inclusive é homenageado na faixa Mantra Bituca e canta ao lado de Lô Borges em Da nossa criação, além de Samuel Rosa e Fernanda Takai. “Eu não a conhecia pessoalmente e foi maravilhoso trabalhar ao lado da Fernanda. Durante o processo de composição do disco, sempre ouvia uma voz feminina. Ela foi a escolhida e se entregou totalmente. Foi bastante generosa, tanto que canta em várias músicas do CD. Ela mesmo disse: eu sou a banda”, comenta o músico de Santa Tereza, que pretende gravar um DVD ao lado dos artistas que fazem parte de Horizonte vertical.
Uma das presenças mais festejadas do CD é a da escritora e musicista Patrícia Maês, esposa de Lô. Das 12 músicas do trabalho inédito, cinco são de Patrícia. “Ela já conhecia a minha música e na reta final da produção do disco, me mostrou cinco letras que tinha feito em apenas dois dias. Foi muito interessante. Somos parceiros na vida e na música”, comemora.
A família parece ser um motivador para o cantor e compositor. Tanto que é para o filho Luca, de 13 anos, que ele dedica Horizonte vertical. Aliás, desde que o garoto nasceu, é para ele que Lô dedica todas as suas canções. O jovem até faz participação em algumas faixas tocando guitarra drive. “Ele tem outros focos na vida, além da música. E tem outros gostos musicais, além do meu trabalho. Quando Luca nasceu, despertou em mim essa vontade de descobrir coisas novas e ele é assim também. Muito curioso com relação a tudo”, repara o zeloso pai. Lô se lembra de um comentário do filho sobre suas músicas: “Meu pai fala de coisas malucas e lugares estranhos.” E brinca: “Tenho procurado honrar essa opinião”. Para o artista mineiro, os discos que faz nunca são monocórdios, cada faixa é uma história. “Cada CD é diferente. Não me repito. As músicas, quando surgem, são inesperadas até pra mim”, diz.
Uma das novidades do disco é a retomada do piano na vida e nas composições de Lô Borges. O instrumento andava meio desaparecido para o músico nas últimas décadas para o músico e, agora, ele voltou com tudo. “Tocava e compunha muito na época do Clube da Esquina. Acho que as últimas músicas que fiz ao piano foram Para Lennon e Mccartney e Um girassol da cor de seu cabelo. Como no palco fico muito com a guitarra e o violão, ele foi meio preterido. Mas com o piano consigo tocar de tudo. É uma peculiaridade. Por isso, costumo dizer que o instrumento é a minha nascente do Rio São Francisco”, afirma.
Além das músicas do novo trabalho, que Lô conta como criou faixa a faixa, ele promete apresentar os grandes hits de sua carreira. Horizonte vertical tem o patrocínio do Natura Musical, programa cultural da Natura de apoio à música brasileira e conta com apoio da Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.
"O papel mais importante que tenho como artista e ser humano é transformar meu silêncio em canção" - Lô Borges, cantor e compositor
Passos da criação :
De mais ninguém: “Foi a música-piloto do disco. Entrei no estúdio com a banda completa e, três dias depois, resolvi optar por apenas dois músicos, além de mim. Estava definida a sonoridade do CD.”
On Venus: “Mandei para o Ronaldo Bastos o mp3 com a melodia. Ele comentou que o jeito que eu cantarolava parecia que cantava em inglês, e escreveu a letra em inglês. Depois que eu e Fernanda Takai colocamos as vozes no estúdio, tivemos absoluta certeza de que Ronaldo estava coberto de razão. On Venus era gringa mesmo.”
Antes do Sol: "Esta música demorou 30 anos para ser feita. Comecei nos anos 1980 e, um dia, quando estava ao piano, ‘alguém’ me cutucou e ela veio, inteira. Fernanda cantou comigo. Um pouco antes de mixá-la, quando achava que estava tudo pronto, inventei os vocais finais. Só aí ficou pronta. Aos 45 do segundo tempo.”
O seu olhar: “É uma balada inspirada em John Lennon. Foi o começo da parceria com Patrícia Maês, minha esposa, naquela época, minha namorada. A letra é uma declaração de amor.”
Horizonte vertical: “Eu e Samuel (Rosa) ficamos uma tarde inteira, na casa dele, compondo uma canção. Já de saída, com a mochila no ombro, eu me lembrei de uma ideia para outra canção. Voltamos aos violões, mostrei o começo e ele emendou a segunda parte. Horizonte vertical ficou pronta em uma hora.”
Xananã: “Liguei para a Fernanda Takai, convidando-a para cantar On Venus comigo. Ela aceitou e neste dia mostrei a ela outras canções. Uma delas, Xananã, tive que mudar o tom, para ficar confortável para ela cantar. Na letra, meu único pedido foi que mantivesse a palavra xananã, que eu cantava desde o início.”
Da nossa criação: “Outra balada Beatle. A letra da Patrícia Maês descreve exatamente a história da minha amizade com Bituca”.
Nenhum segredo: “Samuel vive plugado no mesmo planeta que eu. Ele pode transformar um acorde numa música. Nessa parceria, cheguei com a harmonia e ele colocou logo a melodia, enquanto a gente tomava café, comia pão de queijo e os filhos jogavam bola, na casa dele.”
Mantra Bituca: “Foi a primeira que compus ao violão. Estava em Santa Teresa, na casa da minha irmã. Dei o primeiro acorde e logo veio a palavra Bituca. É uma justa homenagem ao cara que me viu tocando, aos 17 anos, e me levou para gravar e dividir o álbum Clube da Esquina (1972). Na hora de colocar a voz guia – que ficou sendo a voz definitiva – acabei incluindo o nome do meu filho: Luca, Luca, Luca. Esta música é para eles: meu padrinho e meu filho. Aliás, depois que meu filho nasceu, todas as músicas que faço são para ele.”
Quem me chama: “Foi a segunda feita ao violão. É meio mantra. A Fernanda Takai criou uma vocalização extraordinária, totalmente atonal. Quando ouvi, pensei: ‘ Essa mulher sabe muito de música.’”
Você e eu: “É uma canção de amor. Reflete bem uma relação, com suas alternâncias. Tem uma tensão no baixo e uma melodia calma. Pulsação densa e melodia doce.”
Canção mais além: "É a música mais diferente. Falei para minha irmã que queria fazer uma música sobre a sensação de compor ao piano. Tem uma introdução, entra a melodia e, quando volta a melodia, mudei a harmonia e mantive, no canto, as mesmas notas da harmonia anterior. Um detalhe que muito ouvido bom vai demorar a perceber. Mas que Juliano, filho do Samuel, de 12 anos, sacou de cara: ‘Essa harmonia aí é muito louca.’, disse.”
Entrevista : Ana Clara Brant - site : www.divirta-se.uai.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário